Na juventude, a presidente Dilma Rousseff militou em grupos de esquerda, mas minha ignorância não me permite dizer seguramente se chegou ou não a pegar em armas. Seja como for, ela estava disposta a fazer o que julgava necessário para salvar o país de sua submissão ao imperialismo, para acabar com a exploração do povo, para implantar no Brasil um regime de governo que realmente levasse em consideração o bem-estar comum, o bem do sofrido povo brasileiro.
Na época, essa sua iniciativa não deu certo, ela foi presa e, não por isso certamente, o país amargou vinte anos de ditadura militar.
Mas o tempo passou e, quem diria?, aquela jovem corajosa e idealista, mesmo sem antes ter disputado eleição sequer para síndico de condomínio, sagrou-se a campeã de votos nacional, e foi conduzida, nos ombros do povo, a ocupar o mais alto cargo da nação pela qual ela já estivera disposta a morrer para salvar da perdição.
Três anos de mandato já se completaram, mas mesmo tendo um poder majestático, pois o regime presidencialista brasileiro assim faculta, a já não tão jovem Dilma não parece estar salvando a pátria de coisa alguma, mas sim conduzindo-a a uma situação cada vez mais difícil. Até conseguir fazer um povo desacostumado a lutar por direitos ir para a rua protestar contra tudo isso aí, ela conseguiu. Sorte dela que ninguém lá sequer pensou em pegar em armas! Num país de acomodados, em que até a independência foi feita no grito, esse é um feito e tanto para a militante Dilma! E esse fato nos põe a pensar que, finalmente, a vovó Dilma conseguiu amealhar condições mais que suficientes para realizar o sonho dourado da corajosa jovem: salvar o Brasil! Não é isto o que o povo clamava em junho do ano passado?
E para tanto, ela não precisa levantar sequer um estilingue, nem dar ordens para que as Forças Armadas se mobilizem. Não precisa ordenar que a Força Aérea prepare os jatos suecos recém comprados, mas que ainda não existem, e nem mesmo pedir de volta o jato que está à disposição do presidente do Senado, para tratamento urgente de sua saúde capilar. Basta um ato de pura coragem cívica, de supremo exemplo de amor à pátria, de um corajoso despojamento de ambições pessoais: basta que ela renuncie e entregue tudo o que sabe sobre todos esses anos de governo do PT! Pode aproveitar a onda de delações premiadas, tais como as do ex-diretor da Petrobras, do doleiro e das empreiteiras que certamente os seguirão, e abrir a caixa preta (ou será vermelha?) do Petrolão.
A começar pelo dossiê sobre o caso Rose, que ela mandou deslindar e, passando por cima de Gilberto Carvalho, conseguiu montar. Aliás, uma especialidade em que se mostrou uma ótima aluna de seu partido, pois lhe garantiu a possibilidade de tentativa de reeleição, freando a sanha de Lula. Quantos documentos sobre o mensalão não terá ela dentro de seu armário? E sobre a sua campanha eleitoral? E sobre os documentos ultrassecretos da construção de um porto em Cuba, financiada com o dinheiro do contribuinte brasileiro, enquanto os nossos caem pelas tabelas? E sobre as artimanhas do PR no Ministério dos Transportes? E sobre a compra da refinaria de Pasadena, que ela autorizou quando presidente do conselho de administração da Petrobras? E sobre...? E sobre...? Quem quiser que compre um rolo de papel higiênico e complete essa lista.
Não custa sonhar, né? Já pensou se a presidente resolve adotar novamente o figurino daquela jovem corajosa, em detrimento do atual poste de saia, e faz isto mesmo? Vamos ver:
O primeiro na linha de sucessão é o Vice Michel Temer. PMDB? Com os documentos divulgados por Dilma, sequer teria a cara de pau de assumir, se é que já não estivesse na Suíça! Segundo na linha: o presidente da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves, PMDB. Por favor, alguém pode ligar para as ilhas Cayman e pedir que ele venha assumir? Ah, não vem? Sem problemas, chamem o terceiro da lista, o presidente do Senado Renan Calheiros, PMDB. O quê? Foi emitir notas fiscais de venda de gado para viajar para os Estados Unidos e tratar da careca? OK. Então alguém aí pode chamar o quarto da lista? Quem é mesmo? Como é essa lista, alguém sabe? Ah, sim, o quarto é o presidente do Supremo Tribunal Federal? Ricardo Lewandowski, o ministro de defesa do mensalão? Logo ele?
Pensando bem, acho que é melhor o caminho das urnas pra salvar este país!!!